segunda-feira, 21 de maio de 2007

A luta para o bem comum ou individual?

O meio universitário sofreu um grande abalo há cerca de 3 semanas. Os estudantes da Universidade de São Paulo iniciaram uma manifestação contra os decretos do governador José Serra alegando que as medidas adotadas retirariam a autonomia da universidade. Além de reivindicar um posicionamento da reitoria frente à posição do governo, eles pedem melhoras na infra-estrutura e a construção de moradias dentro do campus do Butantã. Para mostrar a força do movimento, eles invadiram o prédio da reitoria e prometeram sair somente quando suas exigências forem atendidas, num protesto que já dura quase um mês inteiro.
Entretanto, apesar de os professores também terem concordado com a greve, apenas uma parcela dos estudantes juntou-se ao movimento. Outros concordam plenamente com a causa e defendem o direito de protesto universitário, mas acham que há formas mais eficazes de conseguir providências. O meio que está sendo utilizado – a greve – prejudica até aqueles que se posicionam contra a causa, pois paralisa todas as atividades de professores e funcionários da instituição. Além disso, o governo já enviou dois avisos aos estudantes. Em último caso, uma intervenção militar poderá ocorrer, causando violência no que deveria ser um protesto pacífico.
A discussão sobre a forma de protesto deveria ser aprofundada. É preciso radicalização sim, pois somente assim o governo cederá à pressão e negociará com os estudantes. Mas outros meios podem mostrar-se melhores e eficientes, como piquetes diários diante do Palácio dos Bandeirantes, passeatas em vias importantes da capital e outras manifestações. Assim, os que não concordam com a causa podem manter suas atividades em dia e os que concordam, lutam por seu sucesso. A greve tem o objetivo se trazer o bem coletivo, mas assim traz apenas o que quer uma pequena parte dos estudantes.


Por João Carioca

Confira aqui o blog da ocupação da reitoria da USP.

9 comentários:

Anônimo disse...

João
Mas se você fala que a reivindicação deveria ocorrer em outros espaços, que não prejudiassem os alunos que querem estudar, e cita vias importantes da capital; concorda que dessa forma prejudicará pessoas que não têm relação nenhuma com a greve, por isso não acho um argumento válido.

A meu ver, a manifestação é válida, até certo ponto. Mas eu acho que essa invasão já está se estendendo além do necessário. Como você mesmo disse, daqui a pouco esta que seria uma greve passifica vai se tornar violenta.

Fê!

Anônimo disse...

Muito bom...adorei a abordagem.
Acredito que tal movimento seja necessário, devida a lentidão e total negligência por parte do governo. É evidente que pessoas saiam prejudicadas, pessoas que nem mesmo são contra ou a favor, pessoas que preferiram não se envolver...bom, talvez se elas se envolvessem o movimento tomaria mais força e assim poderia ser mais rapidamente resolvido. Esse pra mim é o grande problema, se não há a adesão de todos a repercusão é sempre menor. Por isso apoio os estudantes que têm a coragem de perderem suas aulas e se atrasarem para formutura e outras coisas mais. Se não houver sacrifício, não haverá vitória. Eles estão dando a "cara" deles pra bater, e de fato não fica difícil de acontecer...intervenção militar??? É...esse é o governo que São Paulo escolheu.

Anônimo disse...

João, adorei a postagem e o assunto que você tratou. Afinal somos universitários e entendemos - pelo menos um pouco - os problemas pelos quais a educação superior vem passando. A situação está muito complicada, não só na USP, como também em todas as universidades públicas aqui do estado.
Só conversando com alguns amigos soube que vários institutos da UNICAMP já pararam, a UNESP Marília tem sua reitoria ocupada, em Bauru a greve é eminente... Enfim, boas ou não, estão sendo tomadas muitas atitudes pelos estudantes e funcionários. Espero, e talvez por ingenuidade, que medidas sejam tomadas e as promessas feitas pelo governo Lula com seus programas de crescimento dêem resultados.
No entanto, com relação às posições tomadas pelo governador, não acredito em mudanças ou retratações, somente o impedimento e a não aceitação trarão benefícios. Dessa forma, não podemos ter aquela idéia comodista de que pelo fato de serem instituições públicas não devem ser contestadas suas gestões e a qualidade.
Como também, nós que pagamos mensalmente uma quantia - que não é pequena - para estudar, temos que reivindicar melhoras quando necessárias e eu acredito que seja o nosso caso. Por isso, gostaria de expor minha vontade em saber qual é a opinião de todos com relação à qualidade de ensino da Cásper e de como a faculdade se organiza no geral. Será que os diretores têm cumprido seus papéis?
E nós, o que temos feito? Só quero deixar claro que não quero ser moralista, mas também não acho que as coisas têm ido tão bem a ponto de viver nessa passividade - salvo exceções - no meio discente.

Obrigada gente!
Beijos

Anônimo disse...

Procuro ter muito cuidado ao discutir este assunto, e isso porque, apesar de não concordar com a greve, sei que esta e muitas outras situações no Brasil necessitam de solução urgente.

Não sou contra esta greve, mas sim contra a greve como recurso primário de negociação. O uso excessivo deste tipo de manifestação no Brasil acabou banalizando-a. Ela não provoca mais o choque que provocava antigamente. Se estudantes da USP ou motoristas de ônibus paralisam suas atividades, os comentários são: "De novo?" ou "Esses vagabundos não querem saber de trabalhar (ou estudar)". A greve como estratégia única de argumentação é o resultado de uma esquerda entregue a lideranças sindicais despreparadas e/ou mal-intencionadas. Existe um “mercado sindical” no país, que vende palestras de orientação (não tão instrutivas assim), por exemplo, e que gera grandes lucros. Já vi presidente de sindicato desfilando de carro importado.
O que mais me espanta é o modo como os estudantes universitários também recorrem sempre a esse mesmo recurso. Devemos mostrar mais criatividade e preparo nas reivindicações. E é neste ponto que pretendo mostrar porque discordo da Amanda. Quando se luta por algo, realmente são necessários alguns sacrifícios, mas nada mais justo que os afetados sejam aquele que está lutando e, evidentemente, aquele que pode atender aos pedidos dos manifestantes. É muito fácil fazer a revolução com o sangue dos outros. Aliás, este é outro exemplo de despreparo da esquerda brasileira. As greves parecem não ter um alvo específico. Devemos aprender que o alvo não é aquele que tem seu nome pintado nas faixas, e sim quem é realmente afetado com a manifestação. Sendo assim, o verdadeiro alvo de todos os movimentos é o próprio povo. Quando acontecem as passeatas na Avenida Paulista, estamos realmente afetando a vida dos empresários que andam de helicóptero ou que, caso necessário, podem participar de suas importantes reuniões pela Internet, de dentro de seu próprio carro com motorista? É claro que não. Estamos prejudicando os que trabalham durante todo o dia e que normalmente já demoram algumas horas para chegar em casa de ônibus, e que no dia da manifestação vão demorar ainda mais. Nessas horas é fácil ver a típica cena das pessoas abandonando os ônibus e seguindo a pé. Quando acontecem as intermináveis greves de motoristas e cobradores, os donos das empresas e o governo são realmente afetados? É claro que não. Prejudicamos quem perde uma entrevista de emprego, pela qual procurou durante meses, ou quem perde parte do salário por não ter conseguido chegar no serviço. Neste caso, não seria muito mais eficiente os ônibus saírem aos montes das garagens, deixando as catracas liberadas para a população? Uma causa toma corpo e ganha força ao conquistar o maior número de adeptos possíveis, mas como ganhar o apoio de quem está sendo prejudicado por ela? Ninguém luta para conseguir algo que irá prejudicá-lo.

No caso específico da USP, não vejo toda essa coragem em perder aulas. Já passei por algumas greves lá, e em nenhuma delas perdi o semestre. O calendário evidentemente é alterado, com inclusão de aulas no período de férias, mas nada tão dramático como atrasar a formatura.
Vi que algumas reivindicações dos manifestantes são reparos essenciais nos prédios da FFLCH e aumento do número de moradias dentro do campus. Os reparos são extremamente necessários. Sei como ficam os corredores e algumas salas de aula do prédio de História e Geografia nos dias de chuva. Isto sem falar na modernização que parece nunca chegar. Ventiladores velhos e barulhentos, que muitas vezes precisam ser desligados pois estão atrapalhando a aula, são apenas um exemplo. Quanto ao aumento de moradias, também concordo, porém com algumas ressalvas. Não são raras as histórias de alunos que prolongam o máximo possível sua “estadia” na USP, e alguns mesmo sem se formar. Morar de graça, sem pagar água ou luz, dentro da universidade, com uma bolsa integral (isso porque acho absurdo falar que estudamos de graça), com transporte gratuito dentro do campus e até com uma possível anistia no pagamento do bandeijão é tentador mesmo, não? Devemos lutar por melhorias, mas sou a favor de uma verdadeira operação de limpeza antes, que deve partir dos alunos, contando com a ajuda dos professores e funcionários dispostos. Se a torneira da sua casa, que sempre funcionou tão bem, um dia começa a soltar pouca água, abri-la mais só aumentará o desperdício. Só se resolverá o problema quando o vazamento for consertado. Acontece o mesmo com a verba da educação. Só se resolverá quando os fundos fornecidos forem usados de forma correta.

Sei que existe urgência, mas creio que só conseguiremos verdadeiros resultados quando os universitários tomarem consciência de seu papel social, e dentro da própria universidade. Só assim as cabeças serão colocadas para pensar em manifestações e ações realmente eficazes e chamativas, que possam atrair cada vez mais adeptos para as suas causas.

Anônimo disse...

Rodrigo querido,
Concordo com você em vários aspectos, porém acho que você não me entendeu bem...eu também não sou a favor de que em uma greve de cobradores e motoristas, eles simplesmente deixem de trabalhar, sem dúvida alguma os prejudicados serão apenas os próprios trabalhadores.
Mas, por outro lado a questão da USP é um pouco diferente. Sei que você estuda ou estudou la, mas você não acha que muitos dos alunos estão pouco se lixando pro que esta acontecendo?? Sabe porque digo isso? Porque também conheço muitos estudantes de la de dentro, e você bem deve saber que, a maioria que estuda ali vem de família de classe média, ou classe média alta. E como você mesmo disse, você ja passou por greves la dentro e nem por isso perdeu o semestre, ora então não temos prejudicados...temos apenas um bando de idiotas fazendo greve la dentro? é isso que vc quis dizer? Já que eles nem perdem tanto assim...acho que estão la por diversão. Eu gostaria muito de ir até la e saber mais da vida de cada pessoa que esta ali, fazendo a greve e enfrentando opiniões adversas e até mesmo a possibilidade de uma intervenção militar...Eu não acho que seja cômodo morar na USP, com a agua e luz, eu acho que cômodo é morar em uma apartamento com minha família ou com no máximo mais duas pessoas para dividir...acho bem mais cômodo! Também seria mais cômodo eu andar com meu próprio carro dentro da facul do que de
ônibus...que demoram ein...rsrs.
Mas concordo com você, SIM é necessário que os estudantes tenham em mente a real consciência social...mas infelizmente essa real consciência só existe na cabeça de quem passa pelas piores privações...o resto, com raras exceções, são um bando de alienados que pensam que entendem dos problemas sociais, acompanhados pela tv ou internet. NÃO ME EXCLUO!

Anônimo disse...

A coisa está muito boa por aqui hein gente! Sem ironia viu, os comentários estão com uma qualidade ótima e as opiniões também...
Só quero completar perguntando se alguém tem informações de que a polícia planeja uma intervenção, alguns dizem que a idéia é trancar a galera lá e bater... Apesar das falhas que a ocupação tem, isso não pode acontecer!
Beijos

Anônimo disse...

Dani
Estive lá na reitoria pela manhã de hoje (23/05) e pelo que disseram, eles querem reunir o maior número de manifestantes e surpreender os policiais. Não com violência, mas de forma pacífica. Há boatos de que eles vão deitar-se no chão e impedir a circulação da polícia e dificultar a desocupação.

Anônimo disse...

Nossa, concordo com a Dani, hehe, os textos estão bons, e gostei das opiniões. =]

Quando a gente se dedica, hahaha a coisa rola ;]

Gostei das colocações do Rodrigo, e concordo com elas, em grande maioria.

Como disse, acho que os alunos já estão se excedendo...

Beijos

Anônimo disse...

Então gente, a coisa está piorando, o cerco está se fechando... A pressão da polícia está sendo cada vez maior. Resta agora saber o que vai acontecer, como a situação será resolvida. Estou longe de dar qualquer palpite ou encontrar alguma solução...