segunda-feira, 14 de maio de 2007

Para gerar discussão

No bimestre passado o grupo Foco Filosofia apresentou um seminário sobre a atual situação da Igreja Católica. Demos atenção especial para os ícones católicos e surgiu, durante o debate em sala de aula, uma polêmica interessante sobre a figura do Papa, especialmente, o conservadorismo mostrado nos discursos de Bento XVI.
Nesse sentido, já que, nos últimos dias, estamos acompanhando de perto a visita do chefe supremo da Igreja Católica ao Brasil, seria válido retomar a discussão sobre alguns temas, como o aborto e a eutanásia criticados pelo papa. De certo que suas declarações de nada surpreenderam, já que a Igreja é reconhecidamente contra esses e outros métodos, como pílulas anticoncepcionais e camisinha. A justificativa para tais condenações é sempre a de que a Igreja é acima de tudo a favor da vida.
Em contrapartida às declarações de Bento XVI, relacionamos abaixo alguns argumentos mais concretos sobre as práticas que a Igreja tanto condena: o Aborto e a Eutanásia e a partir desses pontos de vista surge a discussão que gostaríamos de gerar:
Até que ponto o Brasil é um país verdadeiramente laico?

Sobre o aborto:
1º - A mulher que é portadora do embrião tem total liberdade, ou pelo menos deveria ter, para fazer o que bem quisesse com o seu corpo. E já que o embrião só está 'vivo' ligado à mãe, esta deveria ter o direito de escolher se quer ou não portá-lo.
2º - Em casos de estupro, a discussão se torna mais difícil ainda. O filho gerado não é desejado, e se nascer, sofrerá as conseqüências disso, coisa que não deveria acontecer. (O aborto, nesses casos, é muitas das vezes aceito, mas é um processo burocrático demais, o que o torna longo e penoso para a mãe que carrega o feto.)
3º - A queda de criminalidade nos EUA, nos anos 90, está diretamente relacionada à liberação do aborto a partir de 1973, como mostra o livro "Freakonomics". Fato esse que se justifica, já que crianças indesejadas sofrem com a falta de amor e auxílio dos pais, se tornando jovens violentos e com diversos outros problemas.

Sobre métodos contraceptivos:
Tanto a camisinha quanto a pílula anticoncepcional são métodos contraceptivos de grande importância para a sociedade atual. Quando citamos uma sociedade atual estamos falando de uma grande parcela de jovens que têm relações sexuais precocemente, desprovidos de orientação adequada e sujeitos a contraírem uma DST (Doença Sexualmente Transmissível). Junto a esses está a parcela de adultos sem parceiros fixos. Esta realidade vai de encontro com os ideais da Igreja Católica. A camisinha, além de ser um método barato, de fácil aquisição e distribuição por parte do Governo, é também um dos mais eficazes. Se for utilizada corretamente, há a possibilidade de falhar em apenas 2%, e é o único método que une contracepção e proteção de DST’s. Não há como abrir mão de uma questão de saúde pública em prol de uma posição conservadora da instituição católica. Esses fundamentos religiosos se adequavam em uma época que os jovens não tinham tanto contato sexual, que os adultos tinham parceiros para a vida toda e que a promiscuidade era em proporções menores, o que não se parece em nada com o contexto atual.

Sobre a eutanásia:
A eutanásia é a prática pela qual se abrevia, sem dor ou sofrimento, a vida de um enfermo incurável.
Quem argumenta a favor da eutanásia, acredita que esta seja um caminho para evitar a dor e o sofrimento de pessoas em fase terminal ou sem qualidade de vida, um caminho consciente que reflete uma decisão informada.Uma defesa que assume o interesse individual acima da sociedade que, com suas leis e códigos, visa proteger a vida. A eutanásia não defende a morte, diretamente, e sim a opção pela mesma por parte de quem a concebe como melhor opção ou a única.
Por trás dessa escolha, são levados em conta todos os fatores (biológicos, sociais, culturais, econômicos e psíquicos) de forma a assegurar a verdadeira autonomia do indivíduo que, alheio de influências exteriores à sua vontade, certifique a impossibilidade de arrependimento.
Nesse sentido ao condenar ostensivamente a prática da eutanásia, a Igreja Católica impede que os indivíduos sequer pensem nessa hipótese. A dor, o sofrimento e o esgotamento do projeto de vida, são situações que levam as pessoas a desistirem de viver. A questão deveria ser tratada muito mais como livre arbítrio do que como conceitos dogmáticos e generalistas. Se é verdade que a eutanásia abrevia uma privação desnecessária, não seria papel da Igreja deixar essa questão para ser resolvida na indivualidade?
O fato é que a autonomia no direito a morrer não é permitida em detrimento das regras que regem a sociedade,e endossadas por discursos conservadores como os do papa Bento XVI, por outro lado a obrigatoriedade e a submissão às leis prolonga uma situação, que em todos os aspectos acaba por custar um preço elevado, desgastante para quem vive em meio a esse fogo cruzado.

Fernanda Abrão e Natalia Guaratto

15 comentários:

Anônimo disse...

É realmente temas interessantes. O aborto nos dias atuais realmente é a possibilidade mais sensata, porém, em relação a eutanásia eu sou contra não por questões dógmaticas ou transcedentais ou qualquer outro tipo externo. Acho que é um sentimento meu, interior, não acho que se deve tirar a vida, tudo bem que tem gente que deva querer, por sofrimento ou alguma mazela que lhe ocorrá. Mas acho que a liberação pode vir a encorajar pessoas desgostosas da já tão massiva vida a praticarem a eutanásia como algo comum. Não sei, realmente, fica aí minha dúvida prezadas colegas.

LUCAS

Anônimo disse...

Oi Lucas...
Na verdade, nós não somos de todo a favor da eutanásia.
Eu, particularmente, sou a favor do aborto, porém, sobre a eutanásia ainda não tenho uma opinião completamente formada.

Mas o ponto que queríamos por mais em foco era o fato do poder da Igreja e alguns de seus conceitos que já não se encaixam mais ao contexto em que vivemos.

"Defendemos" a eutanásia não por sermos a favor, mas para mostrar que há uma outra visão contrária a da Igreja, entende!?

Tentei explicar, não sei se ficou claro, espero que sim.
Mas obrigada pelo comentário.... =]

Beijos

Fernanda

Unknown disse...

A minha opinião sobre as 2 questões é a mais conservadora possível. Respeito a opinião de quem defende a eutanásia ou o aborto mas se eu estivesse nessa situação provavelmente agiria em pró da vida. Nimguém sabe o dia de amanha e sei que essa opinião é reflexo do que ja passei até hoje, por isso não julgo quem age de maneira diferente.

Quanto a questão dos anti-concepcionais acho uma atitude totalmente ultrapassada da igreja católica condenar sua utilização. Uma instituição dessa porte em pleno dias de hoje não poderia jamais incentivar o sexo sem camisinha.

Essa (é claro) é a minha opinião.

Rubens Nogueira

João Coscelli disse...

Acho que para as duas questões vale o consentimento da mãe (no caso do aborto) e da família/paciente (no caso da eutanásia).
Cada caso é um caso, sempre há argumentos diferentes em situações diferentes.
Mas, no geral, a postura da Igreja é radical, principalmente por se tratar de temas que englobam a vida, ponto sensível nas discussões religiosas.
Não sou ligado a nenhuma religião e, por isso, acho que esses conceitos adotados pela Igreja não condizem com a atual conjuntura da sociedade.

Anônimo disse...

Realmente, falar que o aborto é a coisa mais sensata não é o correto.
O mais sensato a se fazer é DAR O DIREITO DE ESCOLHA. O fato do aborto ser descriminalizado não quer dizer que as pessoas SERÃO OBRIGADAS A ABORTAR e sim terão o poder de escolher se querem ou não ter o filho.

E esse poder deveria ser dado aos "pais", principalmente a mãe que, como já coloquei no texto, tem o direito sobre seu corpo!

A questão não é incentivar o aborto, longe disso, cada um tem seus motivos para ser a favor ou contra, mas a realidade está aí: são milhões de pessoas que praticam o aborto, isso é um fato.
Só que atualmente muitas dessas mulheres morrem ou carregam seqüelas após abortarem, e é isso que pode ser mudado.
Fernanda Abrão

Anônimo disse...

Acho que são questões bem delicadas e que, sinceramente, a Igreja Católica não aceitará tão facilmente - se aceitar!
A minha opinião sobre preservativos é única: devem ser usados sim! Isso é uma questão de saúde, quantas pessoas estão contaminadas por doenças sexualmente transmissíveis?! Quantas já morreram?
Sobre o aborto, sou a favor em algumas situações. Estupro, doenças previamente detectadas e falta de condições psicológicas por parte da mãe. Acho também que a burocracia seria essencial, pois só deveria ser permitido abortar em casos como esses, mas deverão ser compravados. Caso contrário, muitas mulheres desejarão abortar por quaisquer motivos, não haverá um incentivo ao uso dos preservativos.

Anônimo disse...

Talvez o sensato nem seja assumir uma posição sobre essas práticas. O aborto e a eutanásia são as últimas alternativas que podem ser pensadas e é claro, em casos únicos.Por isso mesmo no texto publicado, a gente procurou deixar claro as situações que podem levar a essa escolha. De maneira alguma eu sou a favor que essas alternativas se tornem práticas comuns. A banalização acaba por tornar as coisas muito superficiais (normais, eu diria) e em uma cultura como a nossa, na qual lidar com perdas é talvez a maior complexidade humana, tratar a decisão pela vida ou pela morte como "comum" nem seria muito lúcido.
Além de promover o debate, o foco que procuramos dar no texto foi a abordagem da Igreja Católica sobre as polêmicas. Se entre a maioria cética de pessoas que comentaram nesse blog, a discussão já revelou pontos de vistas extremos, o que esperar de uma sociedade religiosa? Se é fato que o Brasil é um estado laico, o papel da Igreja e a influência que ela exerce mostra que vivemos num páis sem sintonia, o que acaba por refletir nas nossas idéias.

Foco Filosofia disse...

"O aborto nos dias atuais realmente é a possibilidade mais sensata"...mais sensata? Penso que realmente essa não seja uma questão tão fácil de se julgar. Não sou contra, nem a favor. Sou contra a banalização de assuntos tão merecedores de atenção e respeito, como o da prática do aborto. Não é uma coisa simples, as 'sequelas' podem ser muito duradouras, tanto psicologicamente quanto fisicamente, isso se não ocorrer uma fatalidade. Acho completamente frio uma pessoa dizer "sou a favor do aborto", isso é grave demais. Será que não devemos repensar sobre isso? Será algo tão simples de se afirmar? Não sigo nenhuma religião, sou contra radicalismo e conservadorismo, mas acima de tudo sou a favor da vida e da sensatez no explícito de seu significado.

postado dia 14/05 as 07:30
Amanda Fincatti

Anônimo disse...

Em relação ao comentário da Amanda

"muitas mulheres desejarão abortar por quaisquer motivos". Esse quaisquer que você utiliza pode ser para você, mas para a pessoa que deseja fazer o aborto pode ser um motivo essencial. Por isso uma legalização, porque cada um sabe o que fazer do seu corpo, e não há como julgarmos o que o outro vai fazer ou não, porque no final não somos nós que vamos cuidar daquele filho rejeitado, que ficará largado como milhares de crianças por aí.

Eu conheço mulheres que são jovens como nós e descobriram que estavam grávidas em outros países, onde o aborto é legalizado. Nesses países, o médico pergunta se a pessoa deseja ter o filho, deseja abortá-lo ou encaminhá-lo para a doação. Para mim, isso seria o ideal.

E sobre a Igreja aceitar ou não, como você cita, é exatamente essa a questão. Não importa para os cidadãos de um Estado laico se ela aceitará, ou não, ou pelo menos, não deveria importar.

Exatamente o que a Naty falou, não há sintonia no país.

Bjs

Anônimo disse...

Pois é, já vi que temos muitas opiniões divergentes por aqui, mas gostaria de acrescentar as minhas. Sou a favor da legalização do aborto por justamente pensar na saúde não só das crianças como também das mães. Isto é, por mais que o fato de tirar a vida do próprio filho seja um ato bruto, talvez deixá-lo viver gere mais sofrimento e dor. Da forma como eu coloquei essa opinião parece que sou radical e tenho certeza do que afirmo, mas essa não é a verdade. Ainda tenho muitas dúvidas justamente por causa da quantidade de casos diferentes existentes e que merecem ser analisados uso de contraceptivos eu posso afirmar que defendo sob quaisquer circunstâncias. Mas quando se diz em eutanásia a questão se complica novamente, de uma forma geral acredito que seja uma alternativa sensata em diversos casos. Mas a ciência e o corpo vivem nos surpreendendo e talvez tirar a vida de alguém hoje pode impossibilitar uma nova forma de recuperação no futuro. Agora sobre o papel da Igreja nas questões sociais eu devo discordar. Não acredito ser função religiosa tratar dos temas cotidianos com tanta firmeza e pouca abertura a novas idéias. No entanto, teoricamente só quem segue o catolicismo realmente poderia também adotar as idéiais papais, o perigo está na influência que a Igreja pode ter no governo e suas decisões, mesmo quando se trata de um Estado laico como o nosso. Por isso espero que quaisquer medidas adotadas pelo governo brasileiro sejam visando o bem comum e a tomadas a partir da participação popular.

Anônimo disse...

Sim Fernanda, mas acho que se legalizado o aborto, talvez não haverá uma preocupação tão grande quanto ao uso métodos anticoncepcionais. Não que uma mulher vá preferir abortar a usar camisinha, por exemplo, mas verá que se isso ocorrer, terá uma solução "fácil". O que impedirá de abortar 3, 4, 5 vezes? Os danos causados psicologica e fisicamente, como já foi dito, são muito grandes. Há também o risco de morte. Isso não seria bom.
Claro que cada um tem seus motivos, mas o que eu quis dizer é que isso não deve se tornar uma prática comum.
Resumindo, desculpa a expressão, mas pode virar "festa". Acho que isso não é legal. Entendeu?

Daniella Cornachione disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniella Cornachione disse...

Eu sei que pode parecer um pouco fora de contexto, mas ainda assim eu gostaria de comentar haha! O que vocês acharam da posição do professor que nos deu aula de antropologia ontem? Digo em relação ao fato de ele não apoiar a distribuição de camisinhas nas redes públicas, mas sim de educar sexualmente a população. Ele defendeu a posição de que os que quiserem fazer sexo que comprem suas camisinhas.
Gostei do modo como ele argumentou, mas ainda acho importante disponibilizar contraceptivos para quem não pode comprá-los. É fato que ainda há muito para ser feito dentro da educação neste país, mas as medidas que têm caráter emergencial são importantes por solucionar os problemas de quem já não pode ser mais atingido pela prevenção. Pareci um pouco confusa eu sei, mas é que estou aqui na redação da Cásper com esse monte de gente entrando, saindo, falando, cantando haha, tá difícil galera! Espero que vocês entendam minha proposta de discussão.
Beeeeijos

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

(comentário acima excluido era esse, hehe, tive que fazer correções :] )
A questão da educação sexual é muito importante e fundamental de fato, mas, acho que agora precisamos de uma solução -ou pelo menos uma tentativa de- imediata. Acho fundamental o governo disponibilizar essas camisinhas.

Temos que pensar que talvez, pode ser, quem sabe, hehe, existam pessoas que têm uma consciência sexual e não têm dinheiro para comprar contraceptivos... isso não é tão impossível, ou estou errada!?


Bom, minha opinião :]


Beijos
Fê!